FOTO: Giovanni Kalabaide
Liderada pelo Parlamento catarinense, a implantação do projeto-piloto que norteia novas medidas para promover a paz e a cidadania nas escolas de Santa Catarina começou a ganhar visibilidade na manhã desta segunda-feira (15). Com cerca de 960 estudantes, a EEB Irineu Bornhausen, tradicional colégio fundado em 1940 no bairro Estreito, na Capital, foi a escolhida para dar os primeiros passos do plano que visa estruturar ações de fomento à interação das famílias com professores e gestores da educação e falar sobre segurança nas escolas.
O ato reuniu os membros do Comitê Integrado para Paz e Cidadania nas Escolas – Integra, liderado pela Alesc e composto por 27 entidades, incluindo órgãos de segurança, educação, sociedade civil, universidades e Ministério Público. Essa é a primeira experiência do Integra em unidades educacionais de Santa Catarina e visa atingir todas as 6.292 escolas em todo o Estado.
A ação faz parte das iniciativas previstas no Plano Integrado Para Gestão da Cidadania e Paz nas Escolas (Plin) em que se busca estabelecer uma política pública de paz e cidadania ampla, por meio de práticas educacionais preventivas e protetivas, além de implementar ações de preparação, resposta e recuperação em relação a situações de risco para as unidades de ensino.
Primeira experiência
Segundo a deputada Paulinha (Podemos), que atua na coordenação técnica do Integra, essa é a primeira experiência que busca envolver a comunidade escolar, sensibilizando os profissionais de educação e as famílias catarinenses. Para ela, é um ponto de encontro de todas as políticas públicas que concernem à segurança escolar.
“Passamos por momentos muito dolorosos. Primeiro em Saudades, a negação, depois Blumenau, a revisita da dor e agora Palhoça. Nós estamos conscientes, todos esses órgãos reunidos no Íntegra, estão conscientes de que precisamos ter políticas públicas eficazes não só apenas na prevenção, mas na capacitação, de como os pais acolhem seus filhos, na forma como os professores são capacitados, enfim, o que estamos fazendo aqui na Escola Irineu Bornhausen é a primeira experiência prática de tudo aquilo que foi estudado há mais de um ano nesse Comitê”, pontuou.
A parlamentar disse que esse dia simboliza o início de uma grande jornada. “Que passa pela escola, pelas famílias e pela sociedade catarinense”, observou.
“Vamos salvar o dia”
Pai de uma das vítimas do massacre de Blumenau, que aconteceu em 5 de abril de 2023 na Creche Cantinho Bom Pastor, Paulo da Cunha Júnior foi convidado pela deputada Paulinha a participar da reunião no Irineu Bornhausen e a participar do Comitê Integra. Pai de Bernardo, Paulo fez do luto um legado e transformou a dor em luta.
Ele contou em seu depoimento que fez do mantra do pequeno Bernardo, de 5 anos, a inspiração para a sua vida. “Em nosso abraço de família, Bernardo sempre dizia a frase ‘Vamos Salvar o Dia’. E foi essa frase que virou o nosso mantra”, revelou.
Paulo, juntamente com a esposa e outra mãe que teve a vida do filho ceifada no massacre, lidera o movimento que pede penas mais rígidas para quem comete atrocidades como a que aconteceu em Blumenau. “Conseguimos que a Câmara Federal tornasse esse crime hediondo. São vitórias”, disse, enfatizando que diante da dor, decidiram lutar.
Outra causa o move: a palestra “Não terceirize o amor”, na qual tenta despertar a importância do envolvimento dos pais na vida dos filhos em idade escolar. “Sempre fomos pais presentes na vida de Bernardo. Os pais têm essa missão: de se envolverem no dia a dia de seus filhos”, adverte, comentando que é preciso estar sempre em estado de alerta.
Como explicou o capitão PM Leonardo Baccin, a Polícia Militar já realiza um trabalho preventivo nas escolas do estado, por meio do Proerd e da Rede de Segurança Escolar. “E desde 2021, a PM está disseminando o protocolo FEL, que orienta a comunidade escolar em agir em casos de pressão máxima, qual a reação diante de casos assim”, disse. “O FEL são as táticas de ‘Fugir, de Esconder e de Lutar’, com explicação, prática e simulado”, afirmou.
Durante todo o dia, os membros do Integra compartilharam informações a respeito de cyberbullying e questões referentes à saúde mental. Foram abordados temas a respeito de Justiça Restaurativa e policiamento preventivo, buscando envolver toda a comunidade escolar.
Paz e cidadania nas escolas
O Comitê Integrado para Cidadania e Paz nas Escolas, o Integra, é um órgão permanente oficializado pela Lei 18.878/2024. Liderado pela Assembleia Legislativa, o Integra reúne 27 entidades para propor e monitorar ações de segurança e promoção da cultura de paz nas escolas.
O comitê iniciou os trabalhos após o trágico ataque a uma creche em Blumenau e passou a atuar como órgão de incentivo e articulação, com foco na elaboração de políticas públicas voltadas para a proteção do ambiente escolar. Em novembro do ano passado, o comitê apresentou o relatório final dos estudos de segurança escolar após sete meses de trabalho.
As ações incluem 11 projetos de lei focados no fortalecimento da segurança das escolas, abordando aspectos de estrutura, recursos humanos, protocolos, normas e publicidade. As propostas tiveram base em missões nacionais e internacionais, seis audiências públicas regionais, dois workshops para discussões e inúmeros estudos entre as entidades.
Agência AL
Fonte: Agência ALESC