200 anos da imigração alemã: conheça a Capital Catarinense da Língua Alemã

Notícias de Santa Catarina - SC HOJE

São João do Oeste, situada no Extremo Oeste, é reconhecida por lei como a Capital Catarinense da Língua Alemã
FOTO: Rodolfo Espínola/Agência AL

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Em 2024 são celebrados os 200 anos da imigração alemã para o Brasil. Os primeiros imigrantes começaram a povoar a região Sul do país em 1824, a partir de São Leopoldo, Rio Grande do Sul. Em Santa Catarina, eles chegaram há 195 anos, formando a primeira colônia em São Pedro de Alcântara.

São vários os municípios catarinenses colonizados pelos alemães e que preservam até hoje a história, cultura e tradições trazidas pelos imigrantes.

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Nesta série de reportagens especiais vamos contar um pouco dessa história. Em São João do Oeste, município do Extremo Oeste do estado e que ostenta o título de Capital Catarinense da Língua Alemã, o foco é a preservação do idioma entre os seus habitantes.

Em São Pedro de Alcântara, na Grande Florianópolis, é resgatada a história da chegada dos primeiros imigrantes para Santa Catarina.

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Já em Pomerode, no Vale do Itajaí, buscou-se a influência da tradição e costumes alemães para o fomento do turismo.

Os textos e as fotos produzidas podem ser acessados no site da Agência AL.

São João do Oeste, capital catarinense da língua alemã
Muito além das belas paisagens rurais ou das águas termais mais quentes do Sul do Brasil, São João do Oeste oferece ao visitante uma experiência nova a quem está acostumado com as grandes cidades brasileiras.

Foto: Rodolfo Espínola / Agência ALAqui se ouve cotidianamente o idioma alemão ou, mais precisamente, o dialeto Hunsrückisch, herdado dos imigrantes provenientes do sudoeste da Alemanha. Ele está presente nas rodas de amigos, no comércio, nas celebrações religiosas e até no atendimento feito na prefeitura. Não por coincidência, no ano de 2008 o município do Extremo Oeste catarinense foi reconhecido em lei estadual, aprovada pela Assembleia Legislativa, como a Capital Catarinense da Língua Alemã.

A manutenção do idioma é um orgulho para os cerca de 6 mil habitantes da cidade, dos quais cerca de 90% ainda o utilizam, em maior ou menor grau, nas conversas diárias.

Moradora do município, Leoni Babick afirma que já está buscando repassar a tradição oral recebida dos antepassados para as filhas Emy, de 4 anos, e Clara, de 5 meses.

“Já tive a oportunidade de ir para a Alemanha e me senti em casa, lembrando de tudo o que a minha avó falava. Agora quero repassar essa tradição também para as minhas filhas, para que o idioma não se perca e para que elas também possam ter essa vivência”, disse Leoni.

O seu esposo, Rafael Arnold, entretanto, disse temer que a tradição se perca, sobretudo depois do fechamento das pequenas unidades escolares que até o ano de 2008 atendiam a zona rural do município.

“Até os sete anos de idade eu só falava alemão, que também era usado normalmente entre os professores e alunos. Com o fechamento das escolas isoladas acredito que o processo fique mais complicado, mas precisamos insistir para que esse costume não se perca.”

Ciente do valor do idioma germânico para a sua população local, o Município reconhece em lei, desde 2016, o alemão como língua cooficial, ao lado do português, com o seu ensino integrando a grade curricular de alunos da educação infantil, ensino fundamental (entre o 1º e o 5º ano) e ensino médio.

De acordo com Lovane Inês Drebel, que leciona alemão no Colégio de Educação Infantil Jesus Menino, o ensino do idioma é uma tradição no município desde os tempos dos primeiros colonizadores, quando era ministrado em uma edificação que servia tanto como escola como igreja.

“Já no início da nossa cidade, havia as schulkapelle, nas quais as crianças recebiam aulas durante a semana, todas em língua alemã, inclusive nos sábados, e no domingo lá havia o culto, a celebração religiosa.”

Atualmente, optou-se por ofertar na rede municipal o ensino do Hochdeutsch, versão oficial do idioma alemão utilizado na Alemanha, em complemento ao dialeto Hunsrückish, falado entre os familiares, como forma de capacitação para o mercado de trabalho.

“É um complemento. Ter conhecimento de duas ou três línguas abre um leque de novas possibilidades para eles, como poder ir para a Alemanha ou servir como um diferencial para um emprego.”

Alemães e católicos
Muito além do idioma, os atuais moradores de São João do Oeste compartilham diversas outras particularidades com os primeiros colonizadores do município, como o forte laço com a religião católica.

Quadro no museu municipal mostra imagem de família de pioneiros de São João do Oeste. FOTO: Rodolfo Espínola / Agência ALDe acordo com o professor Otávio Follmann, curador do Museu Municipal Padre Guido Roque Lawisch, o processo de ocupação da região, iniciado no ano de 1926, foi coordenado pela Volksverein (associação do povo, em tradução literal), que tinha normas estritas para quem quisesse se instalar em suas colônias e lotes. A iniciativa, denominada Projeto Porto Novo, atraiu agricultores de diversas localidades do Rio Grande do Sul, dando origem não só ao município de São João do Oeste, mas também à Itapiranga e Tunápolis.

“Havia duas exigências: ser de origem alemã e católico. Se não atendesse essas condições, era encaminhado para cidades vizinhas, como Mondaí.”

O elevado fervor religioso dos primeiros colonizadores também pode ser medido pelo principal templo do município, a Igreja Matriz São João Berchmans, entre as maiores edificações do tipo na América Latina, feita totalmente de madeira, com o vão central medindo 14×28 metros.

Sua construção foi iniciada no ano de 1945 por meio do trabalho voluntário e das doações de 60 famílias, com a inauguração acontecendo três anos depois. Atualmente é considerada o cartão postal da cidade, sendo visitada por milhares de turistas todos os anos.

“Tudo isso foi feito no braço, já que não havia máquinas para auxiliar. As dificuldades foram vencidas pela fé e a determinação”, destaca o professor Flávio Weber.

De acordo com o padre Hugo Mentges, pároco da Igreja Matriz São João Berchmans, a estrutura segue sendo um símbolo do ímpeto das famílias que desbravaram a região.

“Os primeiros imigrantes que entraram tinham essas preocupações: construir igrejas, construir escolas e cultivar a sua cultura. E isto, esses pilares, continuam bem fortes até hoje aqui nesta parcela do povo de Deus de São João do Oeste.”

Envolvimento da população
Foto: Rodolfo Espínola / Agência ALO forte legado dos colonizadores de São João do Oeste também pode ser sentido por meio de outras manifestações culturais, como a música, a dança e a gastronomia. E para congregar e fomentar ainda mais os costumes e valores alemães, desde 2009 o município realiza a Deutsche Woche (Semana Alemã), promovida anualmente, durante o mês de julho e que já está na 14ª edição.

“Então, durante oito dias de atividades tudo isso é trazido à tona e dada uma ênfase muito especial, com uma programação específica para enaltecer cada uma dessas manifestações. Isso transmite longevidade e perpetuação da cultura alemã para as novas gerações que estão chegando”, explica André Klunk, coordenador da festa.

Outro traço herdado dos primeiros moradores da cidade e que pode ser sentido ainda hoje, acrescenta Klunk, é a organização.

“São João do Oeste é uma cidade que desde a sua fundação, desde que foi emancipada, nunca teve serviço de limpeza de ruas. Isso quem faz aqui é a própria população, que sempre teve o costume de deixar as suas casas bonitas.”

A Deutsche Woche é resultado de uma parceria entre o poder público municipal e a Associação Cultural Alemã de São João do Oeste (Acasjo), entidade mantenedora de diversos grupos culturais na cidade, como coral, dança folclórica, orquestra e patinação artística.

Conforme o presidente da Acasjo, Pedro José Lottermann, quase todos os moradores da cidade possuem algum familiar participante de um grupo cultural. “Hoje, somando todos os integrantes da associação, temos quase o mesmo número que os de alunos da rede municipal até o 5º ano.”

Somente no Grupo de Danças Folclóricas Alemãs Liebe Zum Tanz (amor à dança), são cerca de 200 participantes, que se dividem em diversas categorias, como mirim, infantil, juvenil, e adulto. O conjunto realiza apresentações não só na região, mas também em outros estados e países. O último país a ser visitado foi a Alemanha, em setembro de 2023

Foto: Rodolfo Espínola / Agência ALUm dos destaques, entretanto, é a orquestra Clave de Sol, que atende 28 crianças e jovens, entre os 8 e os 17 anos, em iniciação à formação musical, com aulas de instrumentos e canto. Em seus dez anos de atividades, cerca de 200 pessoas já foram atendidas, de forma totalmente gratuita.

Os melhores alunos também são selecionados para participar da orquestra principal, que promove apresentações abordando um repertório musical eclético, mas sem perder o contato com as tradições germânicas. De acordo com Henrique Drebel, fundador e atual maestro da Clave do Sol, um dos objetivos da orquestra é justamente promover a cultura do município.

“Nosso propósito é difundir um pouco do que a gente produz culturalmente aqui em São João do Oeste para outras localidades de Santa Catarina e também a outros estados. Sempre compartilhando esse projeto, compartilhando essa ideia da nossa cultura, que também hoje se mescla com as outras culturas adjacentes aqui da nossa região.”

Atualmente, a orquestra ensaia um musical em homenagem aos 200 anos da imigração alemã para o Brasil, que retrata as canções que eram cantadas pelos viajantes em direção ao país.

“Nós fizemos uma ampla pesquisa com os nossos integrantes, inclusive com os seus avós, para que eles compartilhassem um pouco dessa cultura, dessas músicas, e aí montamos um medley [junção de trechos musicais] onde tentamos retratar essa ideia da saudade da terra natal, que eles ainda sentem ainda hoje em dia.”

Raoni Bruno Wirth, de 17 anos, que no musical faz um solo cantando em alemão, destaca a importância da orquestra para os jovens do município.

“A orquestra é uma grande família, é um projeto muito lindo, que vai muito além de aprender a tocar um instrumento ou aprender a cantar. Ela proporciona uma bagagem cultural muito grande, que você leva para a sua vida toda.”

O jovem, que iniciou ainda criança a praticar violão e canto, já sente saudades antecipadas do grupo, do qual está prestes a deixar.

“Este é, provavelmente, o meu penúltimo ano aqui na orquestra, mas eu fico muito grato por participar desta grande história, que foi compartilhada também com muita gente que já entrou e saiu dela. Isso é maravilhoso, eu garanto. E falo por mim e por todos os que estão aqui.”

Alexandre Back
AGÊNCIA AL

Fonte: Agência ALESC

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Redação SC Hoje
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