Em evento da BTG Pactual nesta quarta-feira (15), o Ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT) disse que a primeira versão do Bolsa Família acabou com a fome no Brasil. O chefe da pasta econômica não citou nenhum dado científico que comprove esta afirmação e disse que tomou como base “a falta de pedintes nas ruas”.
“Esse caso que você falou do Bolsa Família é importante. Nós com meio por cento do PIB acabamos com a fome entre 2003 e 2010. Acabou. Ninguém mais ouvia falar. Você não via crianças nas sinaleiras, no sinal de trânsito. Não tinha mais”, disse o Ministro em declaração que repercutiu nas redes sociais.
“Hoje você está com 1,7% do PIB e não consegue resolver o problema da fome. São desarranjos. Mudaram completamente o foco do programa”, seguiu o Ministro na palestra. O Bolsa Família foi criado inicialmente durante o governo do presidente Lula e foi mantido durante os seus dois mandatos, além dos governos Dilma, Temer e boa parte do governo Bolsonaro.
Bolsa Família acabou com a fome?
Como dito, o Ministro não citou dados de pesquisas que indiquem de fato que o Bolsa Família acabou com a fome no Brasil. O fato é que alguns levantamentos apontam para uma direção contrária. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) lançou dados afirmando que 11,2 milhões de pessoas passavam fome no Brasil naquela ocasião.
Esta pesquisa foi lançada em 2010, embora tome como base dados de 2009, o penúltimo ano do segundo mandato de Lula. A pesquisa indica que a fome no Brasil diminuiu consideravelmente durante o governo Lula por causa do Bolsa Família e de uma série de outras ações. Mas não é correto afirmar que a fome acabou naquela época.
“A queda foi muito importante, mas ainda há 11,2 milhões de pessoas que precisam ser vistas e cuidadas”, disse a então gerente da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) do IBGE naquela época, Maria Lucia Vieira. “O objetivo é eliminar essa preocupação.”
Paulo Guedes x Fome
Haddad não é o primeiro Ministro da área econômica a chutar dados da fome sem citar dados oficiais. Esta também era uma prática comum do seu antecessor, Paulo Guedes. Durante as eleições do ano passado, ele chegou a questionar os índices oficiais e a dizer que não via ninguém pedindo comida nas ruas.
“33 milhões de pessoas passando fome é mentira. Nós estamos transferindo para os mais pobres, com o Auxílio Brasil, 1,5% do PIB, três vezes mais do que recebiam antes”, declarou o ministro durante um evento Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave).
“É impossível ter 33 milhões de pessoas passando fome. Por mais que tenha havido inflação, não foi três vezes mais. O poder de compra está mais do que preservado por essa nova transferência de renda”, seguiu Guedes.
O fato é que o Brasil voltou ao Mapa da Fome nos últimos anos, e nem mesmo o pagamento do Auxílio Brasil impediu este retorno. Vale lembrar que o valor de R$ 600 por mês era insuficiente para comprar uma cesta básica nas principais capitais do país. Além disso, boa parte dos brasileiros em situação de vulnerabilidade sequer conseguiam entrar no projeto social.