Os ensinamentos de Paulo Freire foram destacados durante sessão especial da Assembleia Legislativa de Santa Catarina, na noite desta quinta-feira (28), em homenagem aos 100 anos de nascimento do patrono da educação brasileira. Representantes de entidades e instituições educacionais e estudantis, além de movimentos sociais, participaram da solenidade, realizada no Plenário Deputado Osni Régis.
A homenagem foi proposta pela deputada Luciane Carminatti (PT), que presidiu a sessão. Ela destacou Paulo Freire como uma das maiores personalidades de pedagogia internacional, com reconhecimento em universidades de renome como Havard, Cambridge e Oxford.
“Apesar disso, ele tem sofrido questionamento. A maioria apenas leu a capa de seus livros e apenas reproduz falas preconceituosas. Respondemos essas contestações com esse ato político”, afirmou Luciane. “Freire deve ser lembrado pelas contribuições não apenas a professores, mas a todos e todas, como sujeitos que podem atuar em todas as áreas, pois o que ele inspira é a mudança no jeito de olhar o mundo.”
A deputada destacou alguns conceitos clássicos da obra de Freire, como a amorosidade e o esperançar, além do compromisso do homenageado com o combate às desigualdades. “Estamos fazendo história, estamos mantendo viva a história, sonhando sonhos coletivos, que desejamos sigam vivos nos próximos 100 anos”, finalizou.
O professor da Unochapecó Ivo Dickmann se manifestou em nome dos quase 15 homenageados da noite. Para ele, em função dos ataques a Paulo Freire, a obra do patrono da educação tem sido relida e redescoberta. Por isso, uma das maiores contribuições é a reinvenção desse legado.
Ele destacou que Freire sempre se aproximou das questões mais emergentes do Brasil de seu tempo, num compromisso com questões sociais como a causa indígena, a reforma agrária, as mulheres, a saúde pública e principalmente da formação de professores, entre outras.
“Freire se transformou num cidadão do mundo, um educador sem fronteiras, um clássico da educação”, afirmou. “Podemos ser contra ou a favor dele, mas todos que trabalham com a educação têm que passar por ele.”
Manifestações
Mauricio Pereira, secretário de Educação de Florianópolis e representante da União dos Dirigentes Municipais de Ensino (Undime-SC), destacou que Paulo Freire é reconhecido no mundo inteiro como grande educador e grande transformador. “Talvez a realidade da educação brasileira seria outra, se ele fosse reconhecido por todos.”
Beatriz Andrade, representante do Poder Executivo na sessão especial, afirmou que Freire “dedicou a vida a fazer educação, a pensar educação, a escrever educação e a educar com amorosidade.”
Não faltaram críticas à realidade do país durante a sessão especial desta quinta. Os participantes destacaram o papel que a obra de Paulo Freire tem no enfrentamento de questões nacionais.
O deputado federal Pedro Uczai (PT-SC) afirmou que o legado de Paulo Freire é importante para o enfrentamento dos desafios do país. “A atualidade de Paulo Freire é a realidade vivida neste momento histórico, que nos provoca e nos empurra a dizer: ‘Paulo Freire, nos ilumine com tanto obscurantismo’”, disse. “Mas tudo isso vai passar porque ele está sendo relido e resignificado.”
Coordenadora do Fórum Estadual Popular da Educação, Rita Pacheco Gonçalves também criticou o que classificou como desrespeito à vida, à ciência, aos professores, à escola, à universidade pública. “Que Paulo Freire nos inspire e nos impulsione. Ele vive em nós e nas marchas que o povo brasileiro está fazendo e vai fazer até que a gente supere esse momento obscuro da história pelo qual estamos passando.”
O reitor do Instituto Federal de Santa Catarina (IFSC), Maurício Gariba Junior, afirmou que a comemoração dos 100 anos também deve servir para uma reflexão sobre a educação brasileira e sobre a intervenção do governo federal nas universidades e instituições de ensino federais. “É um momento de indignação”, disse.
Para o coordenador estadual do Sinte, Luiz Carlos Vieira, a melhor homenagem a Paulo Freire é a manutenção das lutas, das marchas, dos movimentos sociais que ele sempre defendeu. “Cada palavra que falamos é muito pequena diante daquilo que Paulo Freire podia escrever”, disse. “A esperança não vai morrer entre nós. O Brasil merece dignidade, não pessoas que estão hoje negando tudo, pisando, oprimindo, perseguindo e mentindo. Tudo passa e isso vai passar.”
Reinaldo Fleuri, do Instituto Paulo Freire, afirmou que o patrono da educação “nos incita a ser radicais, não sectários, enraizado nos nossos princípios de vida, nos legados ancestrais de amorosidade, de relacionidade, de compromisso com a vida. Ele nos diria: precisamos ser radicais nessa busca de viver em plenitude, de conviver em plenitude e de gerar vida em plenitude, particularmente no campo da educação
Também participou da homenagem a reitora do Instituto Federal Catarinense (IFC), Sônia Regina Fernandes.
Homenageados
- Instituto Paulo Freire
- Coletivo Paulo Freire
- Núcleo de Estudos e Pesquisas em Didática e Formação Docente (Nape) – Udesc
- Laboratório de Educação e Infância (Laborei) – Udesc
- Escola de Ensino Médio Paulo Freire (Abelardo Luz)
- Escola Construindo Caminhos (Dionísio Cerqueira)
- Cátedra Paulo Freire – Unochapecó
- Programa de Promoção à Saúde da UFFS
- Obra “A atualidade das ideias de Paulo Freire”
- Fórum Catarinense Reinventando Paulo Freire – UFFS
- Programa de Extensão Território Paulo Freire
- Centro de Educação de Jovens e Adultos (Ceja) de Laguna
- Centro de Ciência da Educação da UFFS
- Vitral Latino-americano de Educação Física, Esporte e Saúde – UFSC
- Centro de Ciências da Saúde da UFSC
- Seminário Estadual Paulo Freire e a Educação do Campo