Jaison Tupy Barreto sempre destoou dos demais políticos da sua geração. Foi um homem público fora do tom. “De tanto bater tambor, não sei mais tocar violino”, resumiu o ex-senador, referindo-se à sua verve crítica, que não poupa ninguém, inclusive as cúpulas dos diversos partidos que integrou, como MDB, PDT e PSDB.
“Enquanto não se der os nomes aos bois, o Brasil não avança. Por isso eu não passo em concurso de simpatia. Se eu escrevesse uma autobiografia, criaria constrangimento para muita gente.”
Mas, apesar do tom ácido contra adversários e até com aliados, Jaison jamais sofreu processo de calúnia ou difamação.
“Bato pesado, não gosto de ladrões e da companhia deles, me dou bem com o outro lado.”
Aos 80 anos, enxergando com dificuldade, o velho guerreiro transpirou política ao longo da entrevista que concedeu, em 2013, à TVAL e à Agência AL, em seu modesto apartamento em Balneário Camboriú, e percorreu, com a mesma rapidez com que as palavras fluem da sua boca, as últimas seis décadas da história brasileira e catarinense.
Contou que sofreu, que foi perseguido e roubado por causa dos posicionamentos políticos.
“Era divorciado, votei a favor do divórcio. Em Itajaí colocaram meu nome por extenso no arco da igreja, eu era o antifamília.”
Lembrou do machismo sofrido pela sua suplente ao Senado na eleição de 1978, Maria Shirley Baggio Donatto, de Lages.
“Os adversários distribuíram calcinhas. No Oeste diziam ‘este candidato desmoraliza a família, olha o que ele distribui como propaganda, calcinhas’. Faz parte da política.”
E falou com emoção da derrota para Esperidião Amin na eleição para governador em 1982.
“Escolheram maquiavelicamente Laguna, a terra que eu amo e vivi”, aludindo aos inusitados percalços sofridos pelas urnas daquele município. “Quem roubou foi o Serviço Nacional de Informações (SNI). Queriam impedir que as oposições tivessem uma infraestrutura ideológica, com Brizola no Rio, Marcos Freire em Pernambuco, comigo em Santa Catarina e Pedro Simon no Rio Grande do Sul.”
Para o ex-senador, naquela histórica eleição faltou unidade política à oposição.
“O PT tinha candidato, o Eurides Mescolotto, tentei por todos os meios fazê-los entender que era tudo ou nada, que não era hora da gente se dividir. Infelizmente as coisas são assim, na época não compreenderam, mas o voto vinculado de cima abaixo foi criado exatamente para manter o predomínio da Arena.”
Sofrimento pela derrota?
“A gente fica amargurado, mas já estava treinado nisso. Joguei pedra na rua do Palácio do Catete, no Rio; enfrentei a polícia do governador Negrão de Lima, no Largo do Machado. Me pintam de mal-humorado, malcriado, tenho o olho seco, é verdade, mas não perdi a capacidade de chorar. Tenho paixão pelas minhas ideias, fico emocionado por vocês se deslocarem de Florianópolis para ouvir um velho decente.”
De Laguna ao Rio de Janeiro
Jaison nasceu em Laguna, filho de delegado de polícia, descendente de portugueses e com sangue “preto retinto” nas veias. O pai, Tupi Barreto, foi deputado estadual duas vezes e pertenceu à histórica “banda de música” da UDN.
“O velho sempre se comportou com muita dignidade, era honesto e deixou uma baita herança: a máquina de escrever Olivetti e um revólver 38 raspado.”
Começou os estudos no Colégio Catarinense, em Florianópolis, terminou o ginásio em Madureira, no Rio de Janeiro, e em seguida entrou na Faculdade de Medicina, na praia Vermelha.
“Morei no Flamengo, o Rio fervia, tinha o Getúlio, a ditadura, o governador Negrão de Lima e o Carlos Lacerda. Qualquer pessoa alfabetizada acabava se envolvendo. O Lacerda tinha formação marxista, ele constituiu grupos, discutiam política, acabei envolvido, participava. Getúlio era um ditador e havia denúncias de corrupção. Confesso que de alguma maneira fui antigetulista, hoje sou fã”.
A opinião sobre Getúlio começou a mudar em 24 de agosto de 1954.
“Morava no Outeiro da Glória, era quase meia-noite quando comecei a ouvir a notícia no rádio. Tive a dimensão do fato político, o impacto da morte, o suicídio”, avaliou Jaison, referindo-se a Vargas e ao gesto desesperado do tiro no peito.
“A multidão na rua levando o corpo para o Santos Dumont. Comecei a fazer uma autocrítica, quem estava certo, eu, ou o povo? Fiquei assistindo de longe. Hoje me pergunto até que ponto a política é tão clara como a gente imagina, para distinguir o certo do errado?”
Para Jaison, a morte de Vargas se converteu em medida de honra.
“Preferiu o suicídio à vergonha. Hoje nomeiam ladrões e posam com ar de paisagem. Ele deu exemplo de dignidade, ‘prefiro a morte à desonra’. São esses exemplos que ajudam a construir um povo, não o adesismo, a numerologia dos milhões, estou convencido de que os brasileiros querem ética e dignidade.”
O retorno a Santa Catarina
Depois de formado e tendo vivido a mocidade e a solteirice nos anos dourados da bossa nova, o oftalmologista decidiu “retornar ao mundo real”. Tinha 30 anos. O destino foi Rio do Sul, no Alto Vale do Itajaí.
“O deputado Albino Zeni (UDN) precisava de ajuda no consultório, não conseguiu conciliar o mandato com a medicina. Eu, pelado, sem instrumentos, aceitei trabalhar no consultório dele.”
Entretanto, o sobe e desce das águas do rio Itajaí mudou o rumo da viagem.
“Uma enchente trancou o caminho e entrei para Brusque. Fiquei sabendo que o sindicato de tecelagem oferecia assistência médica, fui conhecer. Chegando lá encontrei o Francisco Dall’igna e o Vânio Colaço de Oliveira. Disse para mim mesmo – ‘vou trabalhar aqui’ – e abri meu consultório na pensão Schneider. Era 1961.”
Três anos depois já era um brusquense nato, envolvido com o PTB local e de casamento marcado para 4 de abril de 1964, um sábado, com Astrid Renaux, “uma mulher admirável”, filha de Roland Renaux, “um milionário pão-duro”, sócio da Fábrica de Tecidos Carlos Renaux, cujos empregados o oftalmologista atendia no consultório do sindicato.
Mas, se no amor o capital se entregava ao trabalho, na política a ruptura era iminente. Na semana do casamento, terça-feira, 31 de março, civis e militares sublevaram-se e destituíram o presidente João Goulart (PTB). Os ecos do golpe se fizeram sentir em todo Brasil, estragando os planos dos jovens enamorados.
“Casei em pleno golpe, a pressão foi muito grande, meu padrinho Chico (Francisco Dall’igna) não pode ser padrinho. Disse para meu sogro, ‘então adiamos o casamento’. Ele me alertou, ‘Barreto, te arranca’. Casei e me arranquei de fusca para o porto de Santos, peguei um navio e fui para a Espanha. Chegando lá, me instalei em uma pensão de um comunista e frequentei um curso no Instituto de Oftalmologia de Barcelona. Acompanhei à distância a violência da revolução, que foi feita contra o PTB. Mas encerrado o meu estágio, de um ano e pouco, voltei para o Brasil.”
Retornou a tempo de participar das eleições municipal e estadual de 1965, ao lado do compadre Dall’igna.
“Em 1965 trabalhava em Brusque, meu pai era da UDN, mas eu e o Chico, que sempre foi do contra, trabalhamos para eleger alguém contra o candidato da UDN, que era apoiado pelo Mário Olinger. Lançamos o Neco (Antônio Heil), do PSD, e ganhamos. Me envolvi até a cabeça na eleição.”
Para governador, o PTB apoiou o deputado estadual Ivo Silveira (PSD) contra o candidato da UDN, o então senador Antônio Carlos Konder Reis.
“O lançamento da campanha foi em Brusque, com o Chico candidato a vice, representando o PTB. Esse envolvimento me deixou marcado.”
O deputado federal
Extintos os partidos pelo Ato Institucional nº 2 e criados a Arena e o MDB, Jaison não titubeou e foi um dos fundadores do MDB em Brusque. Mas a cidade dos tecidos se tornou pequena para sua obsessão pela política. Atuando no Conselho Regional de Medicina, apesar da censura e da repressão, ajudou a organizar uma associação com abrangência até Rio do Sul.
“Fizemos uma greve em 1967/68, a primeira greve dos médicos, o pessoal mais representativo parou por causa da mercantilização da profissão. Naquela época, os serviços de saúde eram prestados pelas grandes empresas, que impunham o preço. Nós defendíamos a necessidade de o Estado dar condições ao médico para atender bem as pessoas.”
Porém, o início da organização dos trabalhadores, inclusive de profissionais liberais, que em Santa Catarina contou com o empenho de homens como o ex-deputado Paulo Stuart Wright, foi bruscamente interrompido.
“Veio o AI-5 e cassaram todo mundo. Eu fiquei em Brusque, quieto. Um dia apareceu por lá o Saulo Ramos. Era 1969. ‘Temos de lançar candidato a deputado federal’. Questionei ele: ‘eu, agora que estou ganhando dinheiro, belo e faceiro?’”
A recusa era apenas retórica e Jaison aceitou o convite do secretário estadual do MDB, mergulhando na campanha, como em 1965, investindo principalmente no Sul do estado.
“O pessoal do Sul era mais organizado, principalmente os mineiros, embora alguns setores não confiassem em mim, porque tomava uns uísques. Mas tive a ajuda do Walmor de Luca, que era forte no sindicato dos mineiros. Acabei o mais votado do MDB. O Francisco Grillo, que recebeu mais votos, era o genro do ex-governador Aderbal Ramos da Silva. Fui para Brasília cheio de ilusões.”
Em 1972, no meio do mandato de deputado, foi convocado pelo partido para disputar a prefeitura de Blumenau pela 1ª sublegenda do MDB, uma dessas excrescências da legislação eleitoral do tempo da última ditadura. Não se elegeu, recebeu apenas 5 mil dos 44 mil votos, todavia decisivos para eleger o emedebista Felix Theiss, candidato pela 2ª sublegenda.
Jaison revelou sentir muita saudade dessa eleição municipal.
“O Lazinho (Evilásio Vieira) era o prefeito. Organizado e determinado, queria fazer uma chapa café com leite, um alemão e outro brasileiro, meu vice chamava-se Heinz Hartmann. Foi uma vergonha. Houve um comício no bairro Garcia, me perdi, tive de parar na frente de um boteco. Pedi ao motorista para perguntar pelo local da reunião, mas de forma que ninguém soubesse quem estava no carro.”
Em 1974 se reelegeu deputado federal e ocupou a presidência da Comissão de Saúde.
“Apresentamos aos deputados os modelos de assistência médica no mundo inteiro, Inglaterra, Alemanha, até do Iraque. Também organizamos o primeiro simpósio sobre saúde na Câmara. O segundo aconteceu em 1981, quando já estava no Senado.”
Essas discussões estão na origem do Sistema Único de Saúde (SUS). “Em 1988, surgiu o SUS, um sistema mal financiado, mal dirigido, parece que é boicotado para não dar resultado.”
Jaison destacou sua defesa da Central de Medicamentos (Ceme), organismo criado pelos militares em 1971 para centralizar o desenvolvimento de medicamentos.
“Mesmo dentro da revolução havia pessoas pensando, havia núcleos de militares pensando no Brasil, como no caso da Central de Medicamentos, criada para estimular a pesquisa e colocar ordem no setor.”
Mais tarde, após o debacle do regime, um amigo dos tempos de Congresso confidenciou-lhe. “Barreto, não esqueça, talvez você não tenha sido cassado por causa da postura na Central de Medicamentos.”
O ex-deputado justificou sua posição argumentando que os brasileiros eram cobaias dos grandes laboratórios.
“Era uma maneira de seduzir a classe médica, o brasileiro foi usado como cobaia sem saber, daí minhas brigas com a indústria farmacêutica. Quando fui candidato vieram para cima de mim, um exército de vendedores!”
O senador
Em 1978 Jaison se elegeu senador com 465 mil dos 1,358 milhão dos votos válidos. Na Câmara Alta novamente integrou a Comissão de Saúde e atuou na CPI da Previdência de 1983.
“Naquele tempo a Previdência já merecia atenção, jogou-se muito dinheiro fora, dizem que está quebrada, é uma vergonha.”
Também ocupou a 2ª Vice-Presidência do Senado – “o cargo mais alto da oposição” – e cuidou da administração do atendimento médico da Casa.
“Decidimos fazer um levantamento para ver como o serviço funcionava. Por azar, estava em Nova Iorque na véspera de soltar os questionários. Quatro horas da manhã tocou o telefone, o pessoal do gabinete havia distribuído o papel. Não sabia, mas 15 mil pessoas eram atendidas pelo serviço médico, pensava que era só para funcionários, mas tinha até general. Continuou atendendo, mas não comigo à frente.”
Grupo dos autênticos
Jaison foi membro do petit comité que passou à posteridade como o “grupo dos autênticos” dentro do MDB.
“O grupo teve origem em Pernambuco, em 1971, e era respeitado pelo Ulysses (Guimarães). Ele dizia ‘são o tempero do MDB’. Chegou a permitir o deputado Freitas Nobre (SP) como líder, sempre nos deu proteção.”
Segundo o ex-senador, entre os autênticos “havia entendimento de adiantar o processo de democratização, recuperar as lideranças cassadas, lutar pela anistia e trazer de volta os que tinham sido expulsos do país. Essa agenda prevaleceu, notabilizando os membros do grupo, mas há muito cover por aí”, observou o velho político, sem disfarçar o sorriso irônico.
Anistia
Na época da campanha pela “anistia, ampla, geral e irrestrita” o ex-senador era a principal liderança do MDB catarinense.
“Hoje é mais fácil compreender a anistia, na época não. Era complicado promovê-la incluindo os crimes de tortura. Fizeram concessões, houve condições que as lideranças aceitaram, ampliando os limites da anistia. É um pouco da alma do brasileiro, não é um pecado, um defeito, esse tipo de injustiça de passar uma borracha por cima, foge do radicalismo. As comissões da verdade criadas terão grandes dificuldades para apurar os fatos”, previu.
Diretas Já
Para Jaison, os autênticos jogaram papel fundamental nas Diretas Já.
“Para Santa Catarina veio o Miguel Arraes, que falou para mais de 200 estudantes. Tomamos dois porretes, ele tinha substrato! O Lula veio a Brusque quando era apenas um barbudo. Trouxemos um usineiro, da Arena de Alagoas, o Teotônio Vilela. O Fernando Henrique veio ainda em 1976 e lançamos ele para presidente no Lira Tênis Clube”, em Florianópolis.
De acordo com o ex-líder emedebista, a campanha das Diretas foi uma mobilização sem precedentes na história brasileira.
“Mas não houve jeito, ainda fizemos o movimento ‘Só Diretas’, mas o já PMDB foi para o Colégio Eleitoral. Era ilegítimo, imoral, dava câncer, o fato mais deseducador da política brasileira. Com ele veio o governo mais desastrado da história. Toda essa raça que está aí sobreviveu aos pecados cometidos, lavaram a cara.”
Sempre contra a corrente, Jaison não votou no Colégio Eleitoral que elegeu Tancredo Neves presidente e José Sarney, vice. “Assisti ao discurso do Maluf, depois saí”.
Seis meses antes, em agosto de 1984, Ulysses Guimarães, líder inconteste da oposição à ditadura, chamou-o pelo telefone.
“‘Precisamos da tua presença aqui no gabinete, José Sarney vai assinar a ficha no PMDB’. Me deu um engasgo, deve ser uma brincadeira de mau gosto, pensei, mas era a voz do Ulysses. Fui até o gabinete e disse-lhe: ‘presidente não me peça isso’. Aí começou meu desentendimento com o PMDB. Eu discursava e eles se retiravam do plenário. Era uma solidão e os caras rindo da minha cara. Até os deuses se rebelaram com a morte trágica do Tancredo. Praticamente fui expulso do PMDB, migrei para o PDT do Brizola ainda em 1985.”
A passagem pelo PDT
Na eleição de 1986 Jaison concorreu à Câmara dos Deputados pelo PDT, mas como a legenda não atingiu o quociente legal, encerrou 16 anos de atuação parlamentar.
“O PDT poderia ter sido maior se tivesse comando, mas é um partido herdado. Hoje têm vários donos, que se apropriaram, vendem, distorcem, mas permanecem no partido como usufruto pelo resto da vida”.
Jaison garantiu que saiu do PDT por incompatibilidade com os dirigentes estaduais e nacionais.
“Os melhores quadros foram inviabilizados pela direção, ela esterilizou, acabou com o partido. O PDT tinha um modelo educacional, eleições diretas para escola, num país em que as escolas são interditadas pela vigilância, tinha tradição de trabalhismo verdadeiro, mas os dirigentes me combateram, me questionaram, foram terríveis comigo. Simplesmente me desliguei.”
Sob as asas dos tucanos
Após a experiência frustrante no trabalhismo pós-ditadura, o ex-líder emedebista assinou ficha no PSDB, partido criado por ex-emedebistas, à frente Mário Covas.
“No episódio da fundação eu entrei na planície, como filiado. Mas a permanência foi curta. O partido acabou sendo entregue para um pessoal de terceira categoria. Minha visão estava certa, o PSDB gaúcho e catarinense se depreciaram pela falta de ética. Presidente de partido não é lugar de beatos, só que há um limite que não pode ser ultrapassado. Quem mais sofre é o filiado com vergonha na cara. Eu sinto por eles todos, o cidadão se filia, briga com o vizinho, mas abre o jornal e uma bomba explode na cara. Perde o estímulo.”
Na época, o ex-peessedebista criticou a influência de Jorge Bornhausen, ex-UDN, Arena e PFL, sobre o então presidente Fernando Henrique Cardoso nos assuntos relativos a Santa Catarina.
“Eu estava meio desligado, mas fiquei indignado. Falei para o Chico Kuster e o (Jacó) Anderle. Tem de falar com o Fernando Henrique, para não deixar o monopólio para o PFL no estado.”
Para Jaison, o isolamento do PSDB barriga verde ficou nítido desde a distribuição do material da campanha presidencial de 1994.
“Tive de contatar o Vilson Souza, que era vice-prefeito de Blumenau, ele conseguiu o material do FHC que distribuí no meu posto de gasolina”.
Jaison, versão 2013
Apesar da visão debilitada e da vida modesta que levou nos últimos anos, o ex-senador não perdeu o bom humor.
“Quando passa uma mulher bonita, eu percebo”, gracejou, completando que o oculista que ouviu a anedota respondeu-lhe: “então não está assim tão mau, né Barreto!”
Todavia não vê televisão, nem acessa a internet e lê jornais e livros com o auxílio de uma lupa.
“Parece castigo, se na velhice não puder ler, não faço disso uma tragédia, de alguma maneira o ser humano fica humilhado, fica dependente na velhice”, filosofou.
Mas não abandonou a luta. Repetiu várias vezes que “eleição não é doença, é remédio” e ponderou que não há um pai de família ou empresário responsáveis que não se preocupem com o governo.
“Continuo ativo, free-lancer, apoiei o Edson Periquito”, na época prefeito de Balneário Camboriú (PMDB).
Mesmo com dificuldade para se locomover, Jaison ainda frequenta com regularidade rodas de bar.
“Vou no sábado tomar uísque, vem muita gente de Florianópolis, amigos. Fui educado no Rio de Janeiro, gosto de bar, da convivência com as pessoas. Se todos os políticos andassem por aí, mas a maioria não gosta do contraditório, alguns não podem sair do teleprompter, não sabem nada”, ironizou.
Confessou que cultiva a obsessão de escrever “suas bobagens”, entretanto a limitação visual impõe uma rotina particular.
“Fico depressivo, não durmo, me angustio, então eu gravo, as vezes gravo às 4 e 30 da manhã. Se não gravar, depois me esqueço”. No dia seguinte, Bruna, sua secretária, ouve a gravação e digita o texto. “Eu sou um animal político”, finalizou.
Frases
“Sou otimista, espero que a educação faça do Brasil um país melhor”.
“A democracia é sempre uma obra inacabada, mas dá chance de o país melhorar”.
“A coisa no Brasil é de um primarismo, o estímulo à natalidade, por exemplo, é uma barbaridade. O bolsa família estimula mais filhos”.
“Não tem outro caminho senão o Estado cair na real e criar plano de carreira para médico. A classe médica está errada? Ela faz o que lhe cabe. Não tem pediatra, e vem o governo e diz vamos contratar médico para as periferias. É incompetência administrativa. Os advogados souberam se organizar”.
“Tenho dois netos e um filho. Talvez devesse ser mais família. É difícil aturar um político arrumando confusão e com instabilidade financeira”.
“Para entrar na vida pública tem de pensar duas, três vezes. O sonho de consumo é ser vereador, deputado, mas a turma está abusando. Há um limite e vamos pagar um preço. Se os outros povos mais civilizados estão sofrendo, não vamos continuar sempre nesse flozô”.
“Não sou padrinho de casamento nem de batizado, sempre convidam políticos, eu não”.
“Fui numa missa quando de repente o padre convidou o ‘senador’ para ler o salmo. Fui me encaminhando para o púlpito, o coroinha abriu a bíblia, nisso um amigo meu, Walter Barrichello, gritou: ‘mete-lhe o pau Barreto’. O padre riu, eu ri, todo mundo riu”.