BALNEÁRIO CAMBORIÚ: HISTÓRIA 

A ORIGEM DO TERMO CAMBORIÚ

As primeiras referências ao nome Camboriú verificamos em relatórios de viajantes estrangeiros que visitaram a nossa região e em mapas antigos. Com suaves variações,  o termo original vem do idioma Guarani –  CAMBORI GUASSU – que pode significar robalo grande. Camboriú dá nome ao rio que divide nossa cidade. Pela lei do menor esforço esse termo reduziu-se a Cambriú. Mais tarde, intelectuais aperfeiçoaram para Camboriú.

OS MAIS ANTIGOS MORADORES

O Rio Camboriú serviu de limites a vários termos  e deu nome ao principal distrito da cidade de Porto Belo criado em 1832.

Neste tempo o Distrito de Cambriú fazia divisa com Itajaí no alto do Morro Cortado, isso significa dizer que a localidade de Praia Brava pertencia ao então “Distrito de Cambriú”.  Na Praia Brava temos as mais antigas referências de moradores. O sesmeeiro Silvestre de Borba Coelho chegou  nesse lugar em 1756. A Praia Brava foi tão grande que em 1855 deu entrada na Assembleia Provincial um projeto de lei para transformá-la em cidade.

A Praia Brava vinha bem povoada desde a segunda década do século XIX, quando portugueses da Capital Desterro começaram a ser hostilizados por brasileiros pouco antes da independência.  15 famílias desterrenses se cadastraram para receber terras em Itajaí e Camboriú em 1821. Dos 15,  oito delas se candidataram a receber sesmaria em Cambriú e sete para Itajaí, incluindo a margem sul do Itajaí-Mirim, por vezes chamada também de Cambriú.

Dentre esses senhores destaca-se o Coronel Agostinho Alves Ramos que se posicionou na boca do rio Itajaí, organizando e  comandando  uma muito bem elaborada  freguesia, atraindo para cá algumas famílias de portugueses desterrenses.

Dentre eles o sesmeeiro Baltazhar Pinto Corrêa, que já vinha desde 1813 tentando regularizar suas terras no Canto da Praia, hoje Pontal Norte. Provavelmente por influência de Silvestre de Borba Coelho,  que já estava morando na Praia Brava fazia muito tempo.

Baltazhar Pinto Corrêa que conseguiu do Imperador D. Pedro I, o  despacho sesmarial de uma gleba de terras  de 24 mil braças quadradas no Canto da Praia, atual Vila dos Pioneiros, em Balneário Camboriú, com poderes de fundar no distrito uma vila, segundo o texto de sua carta de  Sesmaria. Foi o primeiro despacho sesmarial do imperador, em 1822, depois de  quase oito  anos de processo.

Convém lembrar ainda, que em vários documentos, algumas pessoas denominavam o Rio Itajaí Mirim de Cambiriú-Mirim. Talvez porque o sentido do Rio Camboriú-Açu deriva para o norte em direção do Itajaí-Mirim e esse fato levava o homem antigo a acreditar que a nascente do Itajaí-Mirim, provinha de um braço do Rio Camboriú. Também porque,  nessa época, a região da Canhanduba estava inteiramente inserida dentro dos limites do Distrito de Cambriú. Moradores da margem sul do Itajaí-Mirim e Rio Conceição, com terras de 1.500 braças de fundos, tranquilamente atingiam  hoje os territórios atuais de Monte Alegre ou Canhanduba, o que deixa de fato esses moradores dentro de Camboriú. E a saída para o litoral pela Praia Brava era mais fácil do que contornar todo o Rio Itajaí. Vários moradores dessa região,  como José Antônio de Borba, Felício de Borba Coelho, Antônio Correa de Negreiros, Antônio Leal Correa, Manoel Ignácio Borges, Felício Luis da Silva, Vicente Coelho da Rocha, João da Cunha, Manoel Fernandes Vieira, Manoel José da Costa, Pedro Paulo Moraes, Antônio Luís Pereira, Marcelino José Bernardes e José Francisco Bernardes  se declararam moradores de Cambriú.

Com o descomissionamento da Colônia Nova Ericeira, criou-se a Vila de Porto Belo, em 1832 e   todo o território abaixo do Rio Itajai-Açu passou a integrar o território da recém criada vila.  Até então, pertencíamos  ao Distrito de Penha, Comarca de  São Francisco.    A Praia Brava do  Cambriassu,   pertencia ao  distrito eclesiástico de Penha.  Também o fato de  a Praia Brava estar a tantos anos pertencendo a  Itajaí, isso fez esconder de nós que os primeiros fatos históricos da nossa Camboriú estavam acontecendo na Praia Brava.

 

O ARRAIAL DE CAMBORIÚ

Nosso arraial começou pertencendo à Freguesia de Nossa Senhora da Graça do Rio São Francisco Xavier do Sul, que fazia divisa com a Freguesia de São Miguel da Terra Firme,  pelo Rio Camboriú. Com a criação do Município de Porto Belo, o termo de Itajaí foi desmembrado de São Francisco para ser incorporado à nova Vila. Pela primeira vez, o Rio Camboriú vai deixar de figurar como divisor de águas e pertencer totalmente a Porto Belo. Passamos, então,  a pertencer à Freguesia do Senhor Bom Jesus dos Aflictos da Villa de Porto Bello.

Pouco se sabe sobre a criação da Vila de Porto Belo. Através dos anais do Senado Imperial, detectamos que a ideia de tornar o antigo Distrito de Enseada das Garoupas em Vila de Porto Belo,  foi do Conselho Provincial Catarinense, que   encaminhou projeto de lei  à Câmara e ao  Senado Imperial.  Depois de aprovada,  a proposta   seguiu para o Gabinete Regencial    para a sanção em nome do Imperador, segundo os termos da lei,  juntamente  com outros decretos, no dia 13 de outubro de 1832. Por isso,  o decreto que cria a nossa “vila avó”, sequer tem número;  sabemos apenas a data da sanção. A Villa de Porto Bello teve sua instalação proposta oficialmente para o dia 7 de setembro de 1833, no entanto,  de fato só foi instalar-se em 7 de dezembro daquele ano.

Muitas informações se perderam pela falta de documentos na Câmara de Porto Belo. Pouco temos de formal sobre a criação dos distritos de Tijucas Grande, Itajaí e Cambriú. O que temos, origina-se de um livro denominado Registro Geral da Câmara de Porto Belo, de 1834/1875 ou das correspondências do Presidente da Câmara de Porto Belo ao Presidente da Província. Essas fontes apenas citam a existência desses distritos, mas não encontramos neles o ato de criação. Nesse livro consta inclusive o termo de nomeação e posse das autoridades necessárias para a  composição de um distrito, tais como o juiz de paz, o escrivão e os inspetores de quarteirão.

Apesar do tal Distrito de Cambriú ter mais população, mais eleitores, mais jurados, mais casas, mais quarteirões do que Itajaí e Tijucas, nossa condição de distrito vai ser anulada.  Podemos até estabelecer uma cronologia desses fatos em seis tempos, baseado nos ofícios entre os presidentes da Câmara Municipal e o Presidente da Província referente a anulação e restauração do distrito de Cambriú:

1º – Dia 13 de julho de 1836. Ofício  de Francisco Luis do Livramento, Vice-Presidente da Província para a Câmara Municipal de Porto Belo, ressaltando que as eleições para vereadores e juízes de paz estão próximas, acrescentando que, na forma da lei, devem ser suprimidos nesse Município os distritos de paz de Tijucas Grande e Camburiú.

2º –   Dia 05 de julho de 1841. Ofício  do Presidente da Província Antero José Ferreira Brito para Câmara Municipal de Porto Belo, respondendo ao ofício de 23 do mês passado, declarando: 1º: que para se ter lugar a formação de um Distrito de Paz em Camboriú,  cumpre a Câmara que proponha quais os limites que deverá ter o novo distrito.  2º […]

3º – Dia  23 de junho de 1841.   Ofício do Presidente da Câmara de Porto Belo  João da Cunha Bitancourt para o Presidente da Província  Antero Jozé Ferreira de Brito, sobre pedido de criação de um Distrito de Paz no lugar de Cambriú.

4º – Dia 29 de julho de 1841.  Ofício do Presidente da Câmara de Porto Belo João da Cunha Bitancourt para o Presidente da Província Antero José Ferreira de Brito, acusando o recebimento do ofício acerca da formação de um Distrito de Paz em Cambriú e indica para Juízes de paz os senhores Major João Correia Rebello, o Tenente Sálvio Antonio de Souza Medeiros, Sargento José Mendes Pereira da Costa. É nesse ofício que temos a revelação que nosso distrito possui mais de 160 casas.

5º – Dia 18 de novembro de 1841. Ofício de João da Cunha Bitancourt para Antero José Ferreira de Brito, comunicando que foram eleitos, para Juiz Municipal do novo Distrito de Cambriú, o Alferes da 1ª Companhia de Cavalaria da 4ª Legião Faustino Antônio do Nassimento e o Tenente da 2ª Companhia Felício Jozé Borges.

6º – Dia 29 de julho de 1841. Ofício de João da Cunha Bitancourt para Antero José Ferreira de Brito, acusando o recebimento do ofício acerca da formação de um Districto de Paz em Cambriú e  da proposta para os juízes de paz:  Major João Correia Rebello, o Tenente Sálvio Antônio de Souza Medeiros, Sargento José Mendes Pereira da Costa.

Com a anulação do distrito, como vimos no item primeiro, passaremos a pertencer a Itajaí,  um distrito bem menor.   O  livro de Registro Geral da Câmara de Porto Belo, de 1834, relata que Itajaí tem quatro quarteirões e  Camboriú  15 quarteirões. Em um desses ofícios temos a revelação de que temos 160 casas em Cambriú contra apenas 75 de Itajaí conforme os mapas populacionais apresentados nesses ofícios.  Sem considerar que bem depois disso,  em 1845, o Engenheiro Van Lede escreveu que Itajai tinha “umas 50 casas”.   Tinha Cambriú mais população e o mais que o dobro de eleitores de Itajaí.   Dá para se ter uma ideia geral de Porto Belo desse tempo, analisando o quadro de jurados.  Nessa mesma ocasião foram escolhidos os jurados do município, assim distribuídos:

Camboriú 48  –  Vila de Porto Belo 22  –  Itajaí 21 –  Tijucas 19

Zimbros 18 –  Bobos 10 –  Perequê 9  –  Tapera 4   – Bombas 8

Araçá 4  –  Encantado 2  –  Ponta da Enseada 1.

Por enquanto, ficamos sem saber os reais motivos desse rebaixamento. O povo camboriuense não concordou com a extinção do distrito e,  podemos ver no item  terceiro que no dia 23 de junho de 1841, o Presidente da Câmara de Porto Belo, João da Cunha Bittencourt, oficia ao Presidente da Província, Antero Jozé Ferreira de Brito, um novo pedido de criação de um  “Districto de Paz no lugar de Cambrihú.”

O Presidente Antero Brito acatou o pedido e ordenou imediatamente  que a Câmara de Porto Belo propusesse os novos limites para Cambriú. Já o  Presidente João da Cunha Bittencourt sugeriu  que os novos limites de Cambriú devessem  ser os mesmos do antigo distrito.  É no corpo destes textos surgem revelações importantes como o número de casas, quarteirões, eleitores.

Em 18 de novembro de 1841, o Presidente da Câmara, João da Cunha, comunica ao Presidente da Província,  Antero Brito,  que foram eleitos para Juiz municipal do novo  Districto de Cambriú, o Alferes da 1ª Companhia de Cavalaria da 4ª Legião, Faustino Antônio do Nassimento e o Tenente da 2ª Companhia,  Felício Jozé Borges”. A “recriação” do Distrito de Paz de Cambriú, em 1841,  é um expediente que decreta uma condição política nova para o lugar.  Por esse instrumento, a banda sul do Rio Camboriú, composta pela  Barra,  Barranco e  Morro do Boi,  começam definitivamente tomar forma de cidade.  A marcha para o Sul do Rio promoveu  um fluxo migratório tão considerável e  com tamanha velocidade, que dificultou nossa compreensão dos acontecimentos.

Outra importante resolução que demonstra esta havendo um fluxo grande de pessoas para o outro lado do rio, é o pedido de João da Cunha Bitancourt datado de 29 de julho de 1841 para o Presidente Antero Brito, relativo a informações sobre o arrematante do Rio Cambriú e as condições dessa arrematação.  O local onde ficaram operando essa  passagem através da balsa, acabou denominando esse lugar de “Passagem”.  Hoje em dia a ponte denominada de Altamiro Castilho faz a travessia nesse mesmo lugar.

O fato de o governo promulgar uma lei,  criando uma paróquia em 1840, é outra evidência de um agrupamento humano de vulto no local. Só mesmo uma migração em massa e com relativa emergência, justificaria  tantos acontecimentos de 1840 em diante. Esta  sequência de fatos vai insuflar a criação da Freguesia em maio de 1849 e a emancipação  de Itajaí em 1884. Finalmente, em 1964, o turismo faz a Praia de Camboriú crescer e emancipar-se,   tornando-se o mais importante polo de turismo do Sul do Brasil.

BALNEÁRIO CAMBORIÚ – HISTÓRIA

OS INDÍGENAS E A CRIAÇÃO DA FREGUESIA

Em Camboriú vivia a mais populosa tribo indígena registrada em Santa Catarina.  Em meados do século XIX, eram comandados pelo Cacique  Kanrém. Um grande guerreiro que comandou diversas incursões sobre a região da Praia da Camboriú.

Só numa dessas incursões eles mataram 22 pessoas num só dia.

Confinados no litoral por medo dos índios, até 1839, os jornais do Rio de Janeiro anunciam sinais evidentes dessa população vivendo a apenas meia légua da foz do Rio Camboriú, fato esse que causava grande temor. Isso fez retardar o povoamento na Barra e na atual Camboriú.

Muito perseguidos pelo governo e iniciativas privadas os índios foram se afastando. Ficou registrado o trabalho de José de Borba Coelho na pacificação desses índios e a consequente migração dos litorâneos para o interior após em 1839.

Esses emigrantes passaram  para o lado sul do Rio e fundaram a Colônia de Bom Sucesso sob o comando do Capitão Antônio Costa e do Sesmeeiro Baltazhar Pinto Corrêa.

A Freguesia de Bom Sucesso de Camboriú alcançou seus meteóricos dias de glória,  nas décadas de 70 e 80 do Século XIX. Foram tantos que o lugar se tornou pequeno, e a mudança da sede passou a ser cogitada para a Vila do Garcia, atual Camboriú.

Muita gente abandonou   da Barra antevendo sua decadência. O êxodo sempre é cruel, mas para a Barra foi ainda mais contundente. A mudança da Sede para o Garcia agradou uma elite poderosa, composta por políticos, que anteviam na futura Sede uma chance na política.  Apesar de a Vila de Bom Sucesso ter uma população maior do que a do Garcia, não teve força política suficiente para segurar sua Sede.

 

A MUDANÇA DA SEDE DA FREGUESIA DA BARRA PARA O ARRAIAL DO GARCIA

A Barra em 1890 era um lugar relativamente novo,  não tinha ainda criado uma identidade cultural capaz de gerar  apego à terra. Ela  havia crescido muito  rapidamente, por  aventureiros portugueses vindo de Desterro para a  Praia Brava, e nenhuma identidade haviam formado. Portanto, não houve grandes resistências  à tese da transferência.

No Garcia havia  um  grande território a ser explorado. Ao contrário da Barra,  que  além de um minguado território, já estava sentido os estertores da exaustão de suas terras. A mudança da Sede era o fato novo que precisavam alguns para movimentar a política, esquentando  as discussões  de promoção de  riquezas que era  o que todos  queriam.

Há de se reconhecer que a propaganda “pró Garcia” era fascinante pois enchia a alma do povo com esperança de uma nova e promissora terra.   Qualquer pessoa,  medianamente inteligente,  perceberia o futuro saltando aos olhos no novo lugar.   Pessoas visionárias seguiram para a Vila do Garcia, lugar que se apresentava muito promissor – principalmente para os políticos.  Já não mais havia ameaças dos bugres neste tempo e o Garcia tinha ligação para Brusque pelo Caminho de Cima (Limeira) e um bom acesso a Tijucas e com a forte comunidade do Itajaí-Mirim pelo Caminho do Meio

A Vila do Garcia,  de certa forma,  também se desgastou nessa história,  como ainda veremos. Em princípio, afirmamos que todos se machucaram. Foi um erro de cálculo considerável transferir uma Sede ao invés de se  criar um  novo distrito.  Ficaram mágoas e ressentimentos entre pessoas  que são pouco visíveis mas que conseguimos captá-los  nas entrelinhas dos   comentários em   cartas que as pessoas escreviam ao bispo ou ao governador. O fato consumou uma situação de dubiedade que não foi previamente calculada. Transferindo-se a Sede de Camboriú para a Vila do Garcia, implicaria uma coisa fundamental sobre a qual  os políticos não pensaram: a obrigatoriedade da mudança dos nomes das localidades permutadas. Por mais incrível que pareça, nenhum dos lados pensou nisso antes e, agora,  não estavam mais dispostos a perder os  nomes originais da Sede anterior e posterior.

A população do  Garcia, composta em sua maioria por pessoas  com esse sobrenome, com razão,   não aceitaram suprimi-lo  do nome  do arraial que fundaram. Nem os  Garcia queriam suprimir  esse nome para  se chamar de Camboriú, nem muito menos as pessoas da Barra,  estavam dispostas abrir mão do  um topônimo charmoso como Camboriú, para se chamar por um mísero acidente geográfico: “barra de rio”.

À medida que o tempo ia passando, o Garcia ia crescendo e a ideia da mudança recrudescia. Quem ditava as regras desse  processo, nesse período,  era uma elite política que comandava a atividade agrícola. O interior de Camboriú apresentava um  futuro promissor como poucos municípios poderiam oferecer. Detinha um vale fértil, com um rio espetacular, com  um  porto muito bem avaliado para escoar seus  produtos. Contra essa força não havia resistência que segurasse.  Do outro lado, quanto mais se falava em mudar a Sede do município, mais o povo da Freguesia (Barra) se indignava com a possibilidade iminente de perder o status de Sede para um arraial.  A tradição reza que o município  que fica na sua foz, leva o nome do rio.  Camboriú tornou-se numa exceção nesse sentido.

 

O DISTRITO DE PRAIA DE CAMBORIÚ

Alguns anos depois da   Segunda  Grande Guerra,  a Praia de Camboriú começou a receber muitos turistas. Visitantes e mais visitantes, então denominados de “veranistas” vieram para cá. Lugar turístico atrai moradores fixos também e por isso, em 1952 vai acontecer um surto de desenvolvimento jamais visto em outro lugar.

A  prefeitura que  vinha aprovando a construção de  uma média de 40 casas por ano até 1951, no ano seguinte  os requerimentos vão somar um montante de 620 unidades. Foi um crescimento absurdo,  de mais de 1.200%,  o que vai  guindar a Praia de Camboriú ao topo das cidades turísticas do Sul do Brasil. Isso fez a Praia pleitear seu status para distrito. Logo no início de 1959, o Vereador Gilberto Américo Meirinho, com apoio de outro vereador praiano, Domingos Fonseca, dá entrada  junto à Câmara Municipal,    a um pedido de criação de um Distrito o qual se materializa no Decreto nº 02/59.

Como é comum em todas as cidades, sempre há resistência por parte dos  municípios originais para emancipar qualquer  distrito. Na sessão acima referida o Vereador Antônio Fadel pediu a palavra e foi muito verdadeiro ao dizer que Camboriú acabava de perder sua sala de visitas. Apesar de se tratar de uma verdade axiomática, o  Vereador Meirinho contestou   dizendo que Camboriú não perdia, mas ganhava, pois pela exígua faixa de terras que compunha a Praia de Camboriú,  jamais se tornaria município. Porém, conceitos podem mudar e a lógica de que pequena extensão de terra não poderia  crescer,  caiu por terra numa velocidade que jamais se imaginaria. Em menos de cinco anos, a Praia cresceu tanto que a emancipação tornou-se inevitável,  provando mais uma vez, que o fenômeno do turismo atua fortemente  em favor do progresso das cidades que nele investem.

Em apenas inacreditáveis quatro anos, o distrito tomou um impulso tão grandioso, que fez a Câmara discutir a emancipação definitiva do Distrito  Praia de Camboriú. No começo de 1964, esse  distrito já contava com boa representação de vereadores e Aldo Novaes apresenta um projeto de lei para a sua emancipação.

 

OS PRIMEIROS TURISTAS

Foram os alemães do vale do Itajaí os primeiros a usar a praia como estância de lazer. Os nativos não usavam a praia com esse fim, sequer usavam trajes sumários.  Só os pobres moravam à beira-mar. Nesse tempo a praia servia apenas para depositar lixo e esgoto.

Para os políticos da Sede, o turismo estava longe de ser uma fonte de riquezas. Ao contrário, dizia-se que o turismo era uma fonte de prejuízos, pois consumia muito investimento e apresentava pouco retorno. Alegavam que o turista era um sujeito muito exigente, que só queria boas estradas, água e energia em muita quantidade e, em contrapartida,  deixava muito pouco recurso. Um vereador da época chegou a dizer,  na sessão da câmara,  que “Camboriú não devia deixar de atender o colono pra dar banho em alemão na beira da praia”. Dizia-se que era muita exigência em infraestrutura para pouco retorno econômico e político. O interior tinha mais gente, dava mais votos e era para lá que os esforços deveriam ser dirigidos. Definitivamente,  a Administração Central não concordou em ceder a divisa pelo rio. Ofereceram para a nova cidade só o litoral. Em princípio parecia ser um desastre anunciado. Em  1961,  a cidade de Camboriú  criou  uma taxa municipal de turismo; e apesar de que na época da emancipação (1964) essa taxa representasse  mais de 40% do orçamento, isso  não convenceu os políticos da Sede de que turismo era rentável.  Houve, inclusive,  um cidadão inteligente que recomendou a mudança da Sede para mais próximo do distrito e isso impediria a emancipação, pois assim ficaria a uma distância mais curta que a recomendável por lei. A sugestão era que se construísse o novo paço municipal perto do trevo da BR 101. Porém o turismo, como nova matriz econômica, ainda estava obscuro no pensamento dos mais conservadores e parecia absurdo abandonar a imensa e produtiva zona rural do município para assistir melhor uma praia árida. Não se admitia valorizar mais a um turista “estrangeiro” que o agricultor que produzia comida e dava votos. Turista não dava votos.   A Comissão de Limites vai propor então que a divisa seja pela pelo traçado da futura BR 101,   mesmo  confinando o Distrito de Praia ao litoral, deixando Balneário  só com  a foz do rio.

 

FINALMENTE O MUNICÍPIO DE BALNEÁRIO CAMBORIÚ

O Distrito da Praia acabou  virando município em abril de 1964, poucos dias após a implantação do regime militar.

Nesse ano com a implantação do regime militar cresce a confiança do pais na economia e as pessoas começaram a viajar e o turismo explodiu no Brasil e o nosso município foi diretamente. Os militares terminaram, finalmente, a implantação da BR 101 em 1969 o que facilitou tremendamente o trânsito  de turistas das regiões mais próximas, fazendo explodir a economia do turismo em nosso município.

O nome do município de Balneário foi longe em todo território nacional, porém, estava ainda acompanhado da preposição  “de”.  Meses depois perceberam que essa  preposição intrusa, (DE) imputava propriedade à cidade de Camboriú. Um terrível equívoco, pois a preposição “de” indicava historicamente proximidade do Rio Camboriú  e não propriedade da Cidade de Camboriú. Assim, através de uma resolução estadual,  foi suprimida tal preposição e a cidade se firmou apenas como BALNEÁRIO CAMBORIÚ.

 

FONTE: História De Duas Cidades: Camboriú e Balneário – 2ª Edição.