
“Tempo suspenso, entre a pandemia e o caos” é uma exposição que reúne duas séries de trabalhos em fotografia produzidas no período pandêmico pela artista Sandra Gonçalves: “Pandemia” e “Caos”. Nelas, a artista procura externalizar sua percepção, a partir do seu lugar, enfrentando o confinamento para preservar vidas. As obras fazem parte da 4ª Temporada de Exposições do Museu de Arte de Blumenau (MAB), que abre ao público dia 13 de setembro, às 19h, com a conversa com os artistas e show musical. A entrada é gratuita e a classificação etária é livre.
A exposição de Sandra Gonçalves estará na Sala Pedro Dantas. “A ideia de que o tempo não existe fora de nós, mas é algo que usamos para descrever o mundo é defendida por Kant. O tempo é percebido de forma distinta pelas pessoas. Quando levamos em conta o isolamento causado pela pandemia da Covid-19, a percepção do tempo se altera, dando a impressão de que o mundo passou a girar mais lentamente e o tempo das coisas já não é mais o mesmo”, diz a curadora, produtora Letícia Lau. “A certeza do futuro próximo, da agenda corrida, da viagem para visitar a família, das demandas do trabalho e do convívio com aqueles que amamos cedeu lugar para a inquietação, a ansiedade, o medo e as incertezas daquilo que estava por vir. A rotina foi forçosamente alterada, e o caos foi instaurado.”
Foi necessário empatia para que o entendimento da artista sobre o seu sofrimento fizesse sentido. Segundo Lepront (2014), o caminho que leva do silêncio à obra é uma projeção do mundo interior do artista para o mundo exterior. Assim, as imagens fotográficas que compõem o conjunto de obras apresentado na exposição são de paisagens vistas por Sandra através de janelas – as quais, por um período, foram seu contato com o mundo externo, tanto físico quanto virtual. Essas paisagens foram sobrepostas com imagens de radiografias, como um indício da fragilidade do corpo provocada pelo isolamento humano e a consequente perda da mobilidade. Elas provocam a reflexão sobre este período e os efeitos do confinamento forçado, em que o ser humano foi privado da sua rotina e do convívio social.
As imagens também indicam um tempo suspenso, onde a fotografia é apresentada como um registro de memória, uma imagem silenciosa – o que, segundo Baudrillard (1997, apud Kossoy, 2007) é uma das qualidades mais preciosas e originais da imagem fotográfica. A exposição absorve o silêncio ao apresentar imagens de ruas e lugares vazios, do céu azul, das frestas encontradas nos guarda-sóis rasgados, do corredor do hospital vazio, dos vestígios e fragmentos de dias sem fim. Um tempo suspenso onde o silêncio da imagem é atravessado pela presença da dor, da solidão e da saudade.
O tempo suspenso da exposição dialoga com os tempos da fotografia propostos por Kossoy (2007), onde a perpetuação da memória é registrada em um tempo fugaz. “Em uma única imagem estão presentes o tempo da criação e o tempo da representação. O tempo da criação é o instante único da tomada do registro no passado; o tempo da representação é onde os assuntos e os fatos permanecem em suspenso e constituem sua memória. Uma relação entre o efêmero e o perpétuo da imagem”, conclui Letícia Lau.
A artista
Sandra Gonçalves é artista visual, pesquisadora e professora na Faculdade de Biblioteconomia e Comunicação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). É graduada em Comunicação Visual pela Escola de Belas-Artes (EBA) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) onde também possui mestrado e doutorado em Comunicação e Cultura. Desde 2000, produz e expõe obras relacionadas à fotografia que possuem, como ponto de partida, a fotografia analógica com temáticas ligadas a reflexões sobre o tempo.
A artista participa do Grupo de Extensão Lumen (UFRGS) onde se desenvolve pesquisa prático/teórica sobre os processos Históricos de Impressão Fotográfica. Suas exposições mais recentes foram no Centro Cultural dos Correios do Rio de Janeiro, Sesc Paraná, MARP em Ribeirão Preto (SP), CCMQ, Espaço dos Correios, IEAV e CHC Santa Casa, estes últimos em Porto Alegre.
Saiba mais
Abertura da 4ª Temporada de Exposições no MAB
Quando: quarta-feira, 13 de setembro
Horários:
19h: conversa com curadores e artistas expositores
20h: abertura da 4ª Temporada de Exposições do MAB e apresentação musical
Visitas: até 26 de outubro, de terça-feira a domingo, das 10h às 16h
Visitas mediadas: podem ser marcadas pelo telefone 3381-6176
Classificação indicativa de idade: Livre
Entrada gratuita
Assessor de Comunicação: Sérgio Antonello
Fonte: Prefeitura de Blumenau – SC