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Políticas afirmativas são necessárias para negros desenvolverem talentos


De acordo com a pesquisadora Dora Lúcia Bertulio, o objetivo fundamental das ações afirmativas é permitir que as pessoas negras se desenvolvam a partir dos seus talentos. A afirmação ocorreu durante debate sobre políticas públicas de igualdade racial, promovido pela Comissão de Direitos Humanos (CDH) da Assembleia Legislativa e realizado na tarde de segunda-feira (22).

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“A liberdade (depois do fim da escravatura) era diferente para os negros. O branco era cidadão, com nome e sobrenome; o negro recebia o qualificativo de liberto: primeiro já se sabia que era negro e, segundo, já jogava a pecha de que havia sido escravizado”, lembrou Dora Lúcia.

A pesquisadora ponderou que a Lei de Terras de 1850, que revogou o uti possidetis, isto é, a posse (propriedade) das terras ocupadas e utilizadas, fechou o território brasileiro aos negros, uma vez que a partir dela “quem queria ocupar terras, teria de comprar”.

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Dora Lúcia garabntiu que os negros receberam do Império brasileiro um tratamento diferente daquele dado aos europeus, notadamente os chamados colonizadores, que receberam incentivos do governo central e dos governos provinciais/estaduais para se instalarem no país.

“A população negra continuou (após a libertação) sem políticas para o seu desenvolvimento e quando hoje falamos que precisa de medidas para diminuir a desigualdade racial entre os dois grupos, há uma rejeição, como se nós negros estivéssemos fazendo exigências para além da realidade”, argumentou Dora Lúcia.

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“Fomos libertados da senzala e jogados na sarjeta, sem políticas públicas, sem estudos, recebendo os salários mais baixos pela falta de qualificação profissional”, concordou Cláudia Prado da Rosa, enfermeira e integrante do Conselho Estadual das Populações Afrodescendentes de Santa Catarina (Cepa/SC).

Segundo a doutora Dora Lúcia, as políticas afirmativas minimizam erros históricos e beneficiam a sociedade em geral.

“A população negra não é a única beneficiada, quem se beneficia é a sociedade, que oferece oportunidade pelo talento e não pela cor das pessoas, uma sociedade que será muito mais saudável e não-violenta”, sustentou Dora Lúcia.

Para a pesquisadora, os efeitos positivos das políticas afirmativas já podem ser constatados na sociedade brasileira.

“A gente já tem um efeito bastante significativo, temos médicas e diplomatas por causa dos programas afirmativos, são pessoas competentes e a competência vem do desenvolvimento das pessoas a partir das oportunidades que têm”, declarou a Dora Lúcia, reforçando a necessidade de “igualdade de oportunidade de desenvolvimento”.

A importância do negro na história
Lisandra Barbosa Macedo Pinheiro, doutora em História, lamentou a ideia popularizada de que a cultura negra começa com a tragédia da escravidão nas américas.

“Há uma grandiosidade na história da população negra na origem da humanidade como um todo, com evidências que muitos pesquisadores trouxeram sobre o império Cuxita e a respeito da cultura do Kemet (terra negra), trazendo provas de que os antigos egípcios eram negros”, revelou Lisandra.

Para a historiadora, ao sonegar informações sobre o lugar dos negros na história da humanidade, a escola reforça o preconceito racial.

“São dados que são deixados de lado, que não são repassados aos jovens em idade escolar, que crescem pensando que a nossa história começa com a escravidão, que a África é pobre, que só sabemos de esportes, artes, enfim não nos dão o direito de ver que viemos de impérios, que tínhamos reis e estados com uma estrutura complexa”, avaliou Lisandra.

Racismo estrutural
Ana Carolina Moura Melo Dartora, vereadora em Curitiba (PR), falou do racismo estrutural e mostrou como ele pode ter lugar nas relações interpessoais mais simples e desde a tenra idade.

“A pessoa não é contratada pela cor da sua pela; isso é discriminação. A pessoa negra correndo é vista como um bandido; isso é discriminação, mas isso também é racismo estrutural, que toma amplitude em um país em que 56% da população é negra e sofre distinção e discriminação cotidianamente”, alertou a vereadora.

Carolina descreveu uma cena descrita por uma pesquisadora em uma creche de Curitiba que revela a dimensão do racismo na sociedade brasileira.

“A professora no final do dia arrumava todas as crianças para entregar aos pais, trocava roupa, penteava o cabelo, mas quando chegava a vez da criança negra ela falava ‘é muito difícil arrumar seu cabelo, saia da fila’”.

A vereadora questionou o caráter inconsciente do racismo estrutural e comentou declaração da pesquisadora Dora Lúcia, de que o comportamento racista, ainda que inconsciente, “afeta as pessoas direta e realmente”.

“O racismo está tão entranhado, reproduzido tão naturalmente, mas ele tem impactos materiais e tangíveis. ‘Você é diferente’. Isso vai criando essa outra identidade, esse outro da sociedade que pode ser discriminado”, pontuou a vereadora.

O Parlamento e a população negra
Marcio de Souza, presidente do Cepa/SC, rememorou o papel do parlamento nacional na configuração do racismo praticado no Brasil.

“O parlamento no período colonial foi aquele que assegurou legalmente a existência da escravidão, gerando os elementos fundamentais para a manutenção da escravidão. E o racismo foi sua peça ideológica mais expressiva para subjugar o ser humano”, afirmou Marcio.

O ex-vereador de Florianópolis explicou que o racismo primeiro foi considerado uma contravenção penal e que somente a partir da Constituição de 1988 “se conseguiu imprimir o ponto de vista institucional de que o racismo é crime”.

A palavra dos deputados
Ada de Luca (MDB), presidente da CDH, e Fabiano da Luz (PT), vice-presidente da CDH, defenderam a importância de combater o racismo.

“Reforçamos a importância de lutar para diminuir o abismo social que separa os  negros dos brancos”, discursou Ada, que lamentou a falta de igualdade na representação política e defendeu dispositivos legais para incentivar a participação de mulheres negras nas eleições de 2022.

“Os sinais do preconceito e do racismo exigem uma resistência maior de todos nós”, reconheceu Fabiano.

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